terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Trancar o dedo numa porta dói


Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam- se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada;
se ele tem assistido as aulas de inglês,
se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros;
se ele continua preferindo Malzebier;
se ela continua preferindo suco;
se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
se ele continua cantando tão bem;
se ela continua detestando o MC Donald's;
se ele continua amando;
se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...
Martha Medeiros

3 comentários:

  1. Caminheiro(a) Evolutivo(a)
    Uma pessoa sábia encontra seu verdadeiro lugar no mundo, e vive de acordo com o que o destino lhe reserva. Sua força interior alimenta suas ações e todas as pessoas beneficiam com suas ações.
    A chama espiritual do ser humano espiritualmente espalha-se além de suas ações no mundo. Aquilo que é invisível e não possui substância física, não tem significação se não influenciar o aprimoramento das ações do homem e de outras pessoas. O sucesso vem para os humildes de alma e coração, que oferecem seus sacrifícios para maior benefício de outras pessoas no mundo.
    Que a força e a luz do Cristo que tudo permeia no Universo, posso envolver você e sua família neste Natal. E que esta energia perdure por ano de 2010.
    Feliz natal!
    Ano Novo de muitas realizações
    São os votos sinceros
    Sublimes abraços.

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  2. texto pra lá de perfeito, mas rever um monte de emoções que estavam adormeciadas aqui e nem lembrava mais delas, que um dia foram boas, hj nem tanto, :/

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  3. Karla. Passou o Natal, e com ele, aquela sensação de acomodar num só dia o atraso de bondade e humanidade do ano inteiro.
    Façamos diferente. Que possamos destilar um pouco desse espírito natalino em doses diárias no ano que se inicia.
    Obrigada pela convivência maravilhosa em 2009. Que esta amizade seja renovada em 2010. Beijos.

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